Muita gente fala sobre “purgatório”. Mas será que essas pessoas realmente sabem o que é isto? Será que esta idéia ou doutrina é de origem bíblica? Se não é bíblica, de onde ela surgiu? Estas e outras questões estarão sendo abordadas no presente trabalho. Como o estado atual dos mortos está diretamente relacionado com o estudo em pauta, também abordaremos algumas considerações bíblicas acerca do mesmo.
1. ORIGEM DA DOUTRINA DO PURGATÓRIO
A idéia do “purgatório” não nasceu com o Cristianismo. Na verdade, ela é bem anterior à era cristã. Ao longo do tempo, o conceito sobre o purgatório vem sendo modificado, de acordo com a evolução do pensamento religioso.
Segundo a doutrina católico-romana, “purgatório” é o lugar ou condição em que permanece a alma de uma pessoa que morreu em estado de graça, mas não pode entrar diretamente no céu, por não estar totalmente purificada de pecados veniais (ou seja, aquilo que o romanismo define como “ofensas pequenas” a Deus) não perdoados, pecados mortais (ofensas graves a Deus, que destroem o estado de graça) mesmo que já perdoados, imperfeições ou maus hábitos. Curioso é que somente depois dos concílios de Lyon e Florença, em 1439, e de Trento, no período da Reforma, a existência do purgatório foi pregada pelo catolicismo.
Segundo esta doutrina, essas almas deverão libertar-se dos vestígios do mal mediante uma prova suprema. Ainda segundo tal doutrina, as almas no purgatório podem ser auxiliadas pelos fiéis vivos, mediante orações, indulgências, jejuns, sacrifícios e outros atos piedosos.
2. O QUE DIZ A BÍBLIA?
Em parte alguma da Bíblia encontramos qualquer referência ao pretendido “purgatório”. Por este motivo, este assunto sempre foi alvo de grande polêmica entre católicos e evangélicos. Somente no livro apócrifo do AT de 2Macabeus 12:45 (escrito em grego) é que se pode encontrar “inspiração” para tal doutrina. O romanismo insiste que também no NT existam menções indiretas ao purgatório, mas utilizando hermenêutica séria tais textos jamais demonstram a existência de tal lugar ou estado.
Muito ao contrário do que esta doutrina preconiza, a Bíblia nos apresenta informações claras acerca do estado atual daqueles que morreram.
É bem verdade que a morte se tem feito tema de discussão e preocupação de todos os povos, independentemente de sua cultura e religião. A partida de um ente querido para o Além, não somente fere os corações, como também coloca em evidência as indagações quanto ao que espera o homem no pós-túmulo.
Devido a tantas indagações, surgem muitas controvérsias em torno do destino da alma após a morte biológica. Será que de fato a Bíblia nos autoriza a crer num futuro definido para o homem após a morte física? Será que de fato a morte biológica impõe um destino fixo e imutável para a alma após a existência física?
2.1. Onde Estão os Mortos?
Esta pergunta tem sido objeto de profunda indagação ao longo da história da humanidade. Todas as religiões do mundo têm as suas crenças acerca do destino dos mortos. Os antigos gregos, por exemplo, acreditavam que os mortos eram introduzidos na “Ilha dos Bem-Aventurados”, onde permaneciam aguardando o julgamento por três representantes do Mundo Subterrâneo. Se fosse comprovado que o morto fora bom durante a vida, os juízes estabeleciam sua retidão e o morto podia assim adentrar nos “Campos Elíseos”, uma espécie de “paraíso”, onde, segundo criam, os mortos estariam em uma terra de música, de ar doce e agradável. As almas boas viveriam ali para sempre, entre as alegrias simples das flores e campinas verdejantes.
Outras religiões, tais como o budismo, o hinduismo e o espiritismo vêem a morada dos mortos de forma diferente.
Neste mundo de tantas opiniões e versões da verdade, surge a pergunta: “Com quem está a verdade, finalmente?” Respondemos enfática e solenemente: a verdade está revelada nas páginas das Sagradas Escrituras, a Bíblia Sagrada, a Palavra de Deus, e isso, obviamente, não deixa lugar para especulações, seja de quem for!
Uma das mais cristalinas afirmações da Palavra de Deus é que Jesus veio a este mundo, não apenas para nos mostrar como devemos viver, mas também para nos outorgar vida eterna!
2.2. O Destino da Alma Após a Morte Física
No contexto do AT, seol (ou sheol), equivale a hades do NT. Diferem na forma, pois o primeiro é hebraico e o segundo, grego. Ambos os termos designam o lugar para onde, nos tempos do AT, iam todos após a morte – justos e injustos, havendo, entretanto, nesta região dos mortos uma divisão para os justos e outra divisão para os injustos, separadas por um abismo intransponível. Todos estavam ali conscientes. O lugar dos justos era de felicidade, prazer e segurança. Era chamado “Seio de Abraão”, “Paraíso”. Quanto ao lugar dos ímpios, era (e continua sendo) medonho, cheio de dores, tormentos e sofrimentos, estando ali todos conscientes.
Em Lc 16:19-31, o Senhor Jesus ensinou estas verdades. É oportuno mencionar aqui, que segundo eruditos de renome, essa passagem não é uma parábola. O título colocado em algumas Bíblias (como por exemplo, Almeida Revista e Corrigida), “Parábola do rico e de Lázaro” (que obviamente não se encontra no original, pois é obra dos editores), não expressa a realidade, pois parábola é uma modalidade de narração em que não ocorrem nomes próprios. Além disto, argumentam alguns eruditos, a presença do verbo haver, como está empregado no v. 19, denota por sua vez um fato real. É importante notar que algumas versões da Bíblia, como, por exemplo, a Bíblia Anotada por Scofield traz como título, acertadamente, apenas “O rico e Lázaro”.
Conforme Ef 4:8-10, o hades situa-se nas maiores profundezas da terra. Além do ensino de Efésios, as demais referências à entrada de pessoas nesse lugar são sempre desceu: Gn 37:35; Nm 16:30,33; Jó 11:8; 17:16; Sl 30:3; 86:13; 139:8; Pv 9:18; 15:24; Is 14:9; 38:18; Ez 31:15,17. Em todas estas referências, vê-se seol e esta palavra mostra um lugar situado nas profundezas da terra. É lastimável que em muitas referências ao seol, algumas versões portuguesas traduzem “sepultura” e termos afins, trazendo confusão ao leitor menos atento.
Em suma, podemos concluir que antes da vinda de Jesus a este mundo, todos desciam ao seol – justos e injustos, havendo uma separação intransponível entre as duas divisões ali existentes.
No entanto, depois da ressurreição de Cristo, as coisas tomaram um rumo completamente novo!
Comecemos recordando que antes de derramar Sua Vida por nós, Jesus afirmara que “as portas do inferno (gr. hades) não prevalecerão” contra a Igreja. Isto por si só já nos mostra que os salvos, a partir da vinda de Jesus, não mais seriam submetidos a descer ao hades, isto é, à divisão ali reservada para os justos. Mt 16:18 indica futuridade em relação à ocasião em que foi proferida por Jesus. Mas, quando, então ocorreu a mudança, vez que Jesus afirmou que no futuro as portas do hades não iriam prevalecer? A mudança ocorreu entre a morte e a ressurreição do Senhor, pois mesmo lá na cruz, Ele pode afirmar ao ladrão arrependido: “… hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23:43).
Também quanto a esta realidade, escreveu o apóstolo Paulo: “Quando ele (isto é, Jesus), subiu às alturas, levou cativo o cativeiro, e concedeu dons aos homens. Ora, que quer dizer subiu, senão que também havia descido até as regiões inferiores da terra?” (Ef 4:8,9).
Daí entende-se, pois, que Jesus ao ressuscitar levou conSigo os crentes do AT, que antes jaziam no Seio de Abraão, conforme prometera em Mt 16:18. Muitos desses crentes, Jesus os ressuscitou por ocasião da Sua morte, certamente para que se cumprisse o tipo prefigurado na Festa das Primícias (Lv 23:9-12), que profeticamente falava da ressurreição de Cristo (1Co 15:20,23). Nesta festa profética estava presente o elemento de “pluralidade”, pois o texto bíblico fala de “molho” ou “feixe”. Logo, no seu cumprimento deveria também haver pluralidade. E houve, realmente, esta “pluralidade”, conforme Mt 27:52,53. A obra redentora do Senhor Jesus afetou não só os vivos, mas também os mortos que dormiam no Senhor. Aleluia!!!
Os crentes que agora dormem no Senhor estão no Céu, pois o Paraíso está agora ali, como um dos resultados da obra redentora do Senhor (2Co 5:8). No momento do arrebatamento da Igreja, seus espíritos virão com Jesus, unir-se-ão a seus corpos ressurretos, e subirão com Cristo, já glorificados (1Ts 4:14).
2.3. A Presente Situação dos Ímpios Mortos
Para os que morreram sem Jesus, não houve qualquer alteração quanto ao seu estado. Continuam descendo ao hades, ao império da morte, onde ficarão retidos em sofrimento consciente até o juízo do Grande Trono Branco, após o Milênio, quando ressuscitarão para serem julgados e lançados no Inferno Eterno (O Lago de Fogo). É interessante observar aqui, que atualmente o sofrimento dos ímpios no inferno é espiritual, isto é, atualmente estão lá sem um corpo físico ressuscitado, como um dia estarão no Lago de Fogo (Ap 20:14,15). Hoje, é como se estivessem num “treinamento” para os piores horrores do Lago de Fogo.
Autor: Pr. Lázaro Soares de Assis